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domingo, 24 de outubro de 2010

Mensagem

"O homem, quando jovem, é só, apesar de suas múltiplas experiências. Ele pretende, nessa época, conformar a realidade com suas mãos, servindo-se dela, pois acredita que, ganhando o mundo, conseguirá ganhar-se a sí próprio. Acontece, entretanto, que nascemos para o encontro com o outro, e não o seu domínio. Encontrá-lo é perdê-lo, é contemplá-lo na sua libérrima existência, é repeitá-lo e amá-lo na sua total e gratuita inutilidade. O começo da sabedoria consiste em perceber que temos e teremos as mãos vazias, na medida em que tenhamos ganho ou pretendamos ganhar o mundo. Neste momento, a solidão nos atravessa como um dardo. É meio dia em nossa vida, e a face do outro nos contempla como um enigma. Feliz daquele que, ao meio-dia, se percebe em plena treva, pobre e nú. Este é o preço do encontro, do possível encontro com o outro. A construção de tal possibilidade passa a ser, desde então, o trabalho do homem que merece ser."

Hélio Pelegrino

 Neste pequeno texto, o autor Hélio Pellegrino, expressa sua opinião a respeito da juventude. Assim como ele, muitos em muitos tempos tentaram assim fazer, expressar em palavras algo que transcende toda a nossa compreensão. Mas poucos conseguiram fazer com tamanha aproximação. E digo aproximação porque os tempos mudam e com eles as pessoas passam, assim como os jovens mudam. Mas também não mudam totalmente. O tempo passa e o jovem continua (como dizia Renato Russo) “tendo muito tempo”. E tempo para que? Simplesmente para ser jovem. Para ser só em sua tentativa de conformar não só o mundo como tudo o que nele há conforme sua própria vontade e com a força das próprias mãos. O jovem acredita que pode ganhar o mundo para ganhar a si próprio, quando devia fazer justamente o contrario. Hoje ouvi de um sábio: “O homem precisa se encher de amor próprio para a partir daí amar todos que estão à sua volta. Assim como precisa conhecer a si próprio para a partir daí conhecer todo o mundo à sua volta.” Talvez Pellegrino já soubesse disso. Por isso expressa tão perfeitamente os anseios da juventude. A vontade de mudar o mundo a partir dos outros e a vontade de mudar os outros a partir de suas mãos, muitas vezes falhas e vacilantes. Ou a espera por encontrar um motivo para amar ao próximo, não lembrando que devemos na verdade amar a inutilidade do outro. Só assim podemos falar nesse sentimento tão puro que é o amor ao próximo. Esse sentimento gratuito que só o jovem carrega com sigo, a capacidade de amar e confiar independente do que se espera em troca. E é aí que começa a sabedoria. Em saber que independente do quanto façamos nessa existência solitária nossas mãos sempre estarão vazias na hora de “ganhar o mundo” (ou diante da possibilidade de fazê-lo). Hoje também ouvi alguém que disse: “Somos todos anjos de uma asa só. E se quisermos algum dia alçar vôo e ganhar os céus precisamos estar abraçados e rumo a um mesmo destino”. Por isso precisamos fugir do cruel dardo da solidão. Precisamos deixar de lado as diferenças. Enquanto muitos ao meio dia preferem se esconder de si mesmo e acordar somente no pôr-do-sol, preferimos nos assumir pobres e nus em meio às trevas do meio dia de nossas vidas. Só assim podemos encontrar a nós mesmos e a partir desse encontro tão pessoal olhar em meios às trevas e perceber que não estamos sozinhos. Somos milhares, que tendo encontrado a si mesmo estão prontos para juntos alçar vôo rumo a conquista do mundo que queremos.

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